Sylvio de podestá
- ACR 113
- 9 de fev. de 2021
- 14 min de leitura
Arquiteto goiano que fixou residência e fez carreira na capital mineira.
Vida e carreira
Nascido em 1952 em Rio Verde, no estado de Goiás, Sylvio de Podestá é um renomado engenheiro arquiteto, que fixou residência e fez carreira na capital mineira. Foi em Belo Horizonte que Sylvio iniciou os estudos na Escola de Engenharia, da Universidade Federal de Minas Gerais em 1970, pedindo transferência 3 anos depois para a Escola de Arquitetura da mesma universidade, onde concluiu a graduação em 1982.
Nos longos anos até a graduação, Podestá trabalhou como colaborador em diversos escritórios de arquitetura e em 1976 montou o próprio escritório, Arquitetura & Design, junto aos arquitetos Paulo Sérgio Miranda Diogo, Paulo Greco, Cid Horta, Carlos Alexandre Dumont/Carico, Eduardo Tagliaferri, Saul Vilela e ao designer Thales Pereira. Também durante esse período conquistou o primeiro lugar nos concursos “Novas Propostas para Habitação Popular/ Banco Nacional de Habitação'', em equipe com Márcio Lara e Maria Elisa Baptista, e “Parque de Exposições Agropecuária de Uberlândia, MG”.
O segundo escritório de Podestá, 3 Arquitetos, foi montado um ano antes de sua formatura, com os parceiros Éolo Maia e Jô Vasconcellos, com quem já dividia a atividade de publicação das revistas Vão Livre e Pampulha desde 1978. A edição Vão Livre pretendia “comunicar reflexões, trabalhos e dúvidas não só aos diretamente ligados ao desenho do espaço para as comunidades, instituições ou pessoas, mas também dos que, a despeito da demanda atual, ainda se preocupam com o destino das sociedades e seus assentamentos.'' (EDITORIAL, 1979). Já as 12 edições da revista Pampulha, reuniram os principais nomes da arte e da arquitetura de Minas, movimentando a cena cultural brasileira e marcando época na vanguarda nacional.

Figura 01: Capas das revistas "Pampulha" e "Vão Livre"
Fonte: https://www.podesta.arq.br/publicacoes/revista-pampulha/revista-pampulha/ e https://www.podesta.arq.br/publicacoes/revista-vao-livre/revista-vao-livre/
Livre, irônica, brasileira. Estas teriam sido as principais características da revista Pampulha que representou, no final da década de 70, o restabelecimento das comunicações após se esvanecerem os brumais de um período nefasto para a cultura, a política e a participação social na vida brasileira. (PODESTÁ, 2008)
Com o grupo 3 Arquitetos, Sylvio Podestá se aproximou dos debates da arquitetura pós-moderna internacional e do pós-guerra na Europa, iniciando um processo de maior experimentação plástica e de rompimento com as formas e os princípios estruturais da arquitetura moderna. Foi também com os dois companheiros que Sylvio publicou os livros "3 Arquitetos" em 1982 e 1985, ganhando visibilidade no cenário brasileiro e no internacional.

Figura 02: Grupo 3 Arquitetos (Da esquerda para direita: Éolo Maia, Josefina Vasconcellos e Sylvio de Podestá)
Fonte: MAIA; PODESTÁ; VASCONCELOS, 1988, p.02
A partir de 1988, o escritório também adotou um jornal informativo que pretendia dizer sobre todos os acontecimentos ligados às atividades do escritório, inclusive extras, e reafirmar a necessidade de uma ampla divulgação de trabalhos de arquitetura naquele momento de transição histórica, em que o reconhecimento da sociedade era fundamental para a aprimoração e correção dos seus erros enquanto arquitetos.
Para além da vida no escritório, Sylvio e Éolo também eram companheiros de bar. Os dois arquitetos marcados pelo bom humor, pelo caráter boêmio e pela rejeição das instituições formais, eram frequentadores cotidianos do bar Pelejando no bairro Santo Antônio. Bairro em que Sylvio, em 1989, fundou seu próprio escritório, Sylvio de Podestá Arquitetos Associados, que mantém desde então.
Em seu escritório, Podestá e sua equipe se reinventaram e formularam um jeito próprio de fazer a arquitetura, se afastando da ideia e do peso que era representar Belo Horizonte e Pampulha, na época as mais conhecidas localidades onde se via a arquitetura moderna brasileira em Minas Gerais. Para a criação desse estilo, se inspiraram nos mais diversos movimentos de arquitetura, indo do barroco de Minas Gerais, passando pela história e racionalidade urbana do planejamento realizado por Aarão Reis para Belo Horizonte, até movimentos de vanguardas internacionais e modernas, como o pós-modernismo, o minimalismo, as altas tecnologias já desenvolvidas, o desconstrutivismo e o supermodernismo.
Logo Sylvio se tornou uma personalidade bastante relevante para a comunidade de arquitetura brasileira, principalmente por sua postura de luta a favor da realização e da divulgação de uma boa arquitetura e de um bom urbanismo, de forma a exprimir as necessidades dessa comunidade e aumentar a visibilidade e o potencial dos brasileiros no ramo. Podestá chegou a organizar diversas exposições, bienais e concursos públicos de arquitetura e urbanismo, muitas vezes com premiações aos vencedores. Além disso, até hoje contribui intensamente para a atividade de divulgação arquitetônica por meio da AP Cultural, revista criada pelo próprio arquiteto, com publicações de suas obras e de outros arquitetos, em sua maioria profissionais de grande importância para a história de Minas Gerais, como Raffaello Berti e Saul Vilela.

Figura 03: Capas de algumas edições da revista AP
Fonte: https://www.podesta.arq.br/publicacoes/revista-ap/revista-ap/
Sylvio de Podestá ainda acumula experiências como professor. Nos anos de 2003 e 2004 lecionou como professor substituto no curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica, unidade mineira, e entre 2005 e 2006, na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. Em seguida, foi convidado novamente para lecionar na PUC Minas, onde permaneceu até 2010.
Além de revistas, o arquiteto também escreveu alguns livros, que exploram principalmente as suas obras e a arquitetura brasileira. Nessas publicações, fica clara a intenção do autor em buscar por novas maneiras de realizar seus projetos arquitetônicos, inovando de várias formas e chegando em boas soluções para os mais diferentes tipos de problemas, com níveis elevados de criatividade e produtividade. Os livros revelam como Podestá tem o conhecimento abrangente de um bom profissional, como tem a visão necessária para enxergar de vários pontos de vistas diferentes um mesmo projeto, levando em conta seus diversos fatores, seja no setor estrutural até no setor fenomenológico da obra, e como tem a força de vontade de sempre evoluir e trabalhar em prol do reconhecimento da arquitetura pós-moderna.
LISTA DE PROJETOS
Entre suas obras podemos listar:
Casa Sydney e Karla – Brasília, Distrito Federal – 1981
Palácio Arquiepiscopal de Mariana - Mariana, Minas Gerais (em equipe com Éolo Maia e Jô Vasconcellos) – 1982/83
Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves (“Rainha da Sucata”) - Belo Horizonte, Minas Gerais (em equipe com Éolo Maia) – 1984/1992
Museu de Arte - Belo Horizonte, Minas Gerais – 1989
Centro Cultural da Romaria - Congonhas Do Campo, Minas Gerais – 1993/1995
Microcity Computadores e Sistemas - Belo Horizonte, Minas Gerais – 1994/1997
Canal 23 - Belo Horizonte, Minas Gerais (em equipe com Maurício Meirelles) – 1996
Edifício Direcional - Belo Horizonte, Minas Gerais (em equipe com Júlio Teixeira) – 1998
Residência Luiz Carlos e Denise - Nova Lima, Minas Gerais – 1998
Itaú Power Center e Itaú Power Shopping - Contagem, Minas Gerais – 1998
Shopping Show Automall - Belo Horizonte, Minas Gerais – 2002
Instituto Doctum, Campus Ecotecnológico Lagoa do Piau - Ipatinga, Minas Gerais – 2003/2008
Instituto Doctum, Campus Universitário Pampulhinha - Teófilo Otoni, Minas Gerais – 2003/2008
Memorial Chico Xavier - Pedro Leopoldo, Minas Gerais – 2006
Rona Editora - Belo Horizonte, Minas Gerais – 2006
Cidade do Avião - Rio De Janeiro, Rj. – 2007
Perfil Publicidade, SED - Belo Horizonte, Minas Gerais – 2007/2008
LISTA DE PREMIAÇÕES
1977 – Primeiro lugar no concurso “Novas Propostas para Habitação Popular/Banco Nacional de Habitação”
1978 – Primeiro lugar no concurso “Parque de Exposições Agropecuária de Uberlândia, MG”
1981 – Primeiro prêmio do Salão da Prefeitura de Belo Horizonte e menção honrosa no concurso para a reforma do Teatro Chico Nunes, em Belo Horizonte.
1982 – Primeiro lugar com o projeto Habitação Unifamiliar no Instituto dos Arquitetos do Brasil/Minas Gerais (IAB/MG).
1987 – Obteve menção honrosa no concurso para construção do Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato, PI.
1988 – Primeiro colocado no concurso do Centro de Tráfego e Oficinas para o porto de Ilhéus, BA.
1989 – Com o projeto de habitação popular “A Vila do Brás”, ganhou o primeiro lugar no concurso nacional promovido pela prefeitura da cidade de São Paulo com o IAB/SP e conquistou o prêmio IAB Nacional – 70 Anos, com o projeto “Edificações para Fins Diversos”.
1991 – Obteve menção honrosa no concurso para o Paço Municipal de Osasco (SP).
1992 – Conquistou o Prêmio Arquitetura Criativa, com o Projeto Sensações, na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
1993 – Obteve menção honrosa no concurso “Uma Casa para o Bairro Tamboré”, na II Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
2000 – Primeiro lugar no 2º Prêmio Usiminas Arquitetura em Aço, com projeto de Habitação de Baixo Custo, em Belo Horizonte.
Casa Sydney e Karla
A residência “Sydney e Karla”, projetada para a irmã e o cunhado do arquiteto, localiza-se na Península dos Ministros, em Brasília – DF, em uma região de mansões oficiais e casas de luxo. Sobre o terreno, Podestá enfrentou uma área sem vegetação, árida e levemente inclinada.
Desde o princípio, a ideia do arquiteto era que a casa “não ficasse acanhada perto destas grandes obras” (PODESTÁ, 2000), ou seja, deveria adquirir um caráter monumental, comumente encontrado nas obras arquitetônicas de Brasília. Em uma área de 405 m², Sylvio conseguiu produzir uma casa com esse valor, tornando o estilo residencial afastado do modesto e mais próximo do magnífico.
A cerâmica é o material mais notável neste projeto, atingindo tanto o revestimento do telhado, como dos pórticos e do piso. Em consonância com este material, a casa foi pintada em tom vermelho goiaba, numa tentativa do arquiteto de exaltar a cor na arquitetura.
Na época do projeto inicial intitulei esta casa de uma obra pós-Brasília, fora dos cânones modernistas, dos concretões e também dos mediterranês e coloniosos. Discutíamos circulações, simetrias, materiais, texturas e cores. “A cor existe” era nosso grito de guerra e a cor que lá utilizamos foi o vermelho goiaba, mistura feita in loco nos tempos que as mix machines não existiam por aqui. (PODESTÁ, 2000)
Ficha Técnica
Local: Brasília - DF
Projeto: 1981
Obra: 1982-1983
Tipologia de Uso: Residencial
Materialidade: Cerâmica e concreto
Padrão arquitetônico: Pós-moderno
Área do terreno: 1.033,00m²
Área construída: 405,00 m²
Análise da planta
A simetria norteia a planta da “Casa Sydney e Karla”. Sua parte central é composta por um pátio retangular e a residência organiza-se em duas alas proporcionais em torno do pátio, cobertas por telhas cerâmicas.

Figura 04: Casa Sydney e Karla
Fonte: https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney-e-karla/
Existem dois acessos para o interior do local, sendo um público e um privado. O primeiro, alcançado por uma escada reta, e o segundo, contornado por uma ampla escadaria em formato triangular que direciona-se para a área de lazer. Os dois acessos são conectados por um corredor que, em seu ponto médio, possui escadas para acessar o pátio central. Na entrada privada, as duas alas simétricas da casa são interligadas por um grande pórtico, enquanto na entrada pública, as alas são intermediadas por um pórtico mais baixo e estreito. Assim como a planta, as entradas apresentam clara simetria e centralidade em suas composições.

Figura 05: Entrada posterior e entrada frontal
Fonte: https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney-e-karla/
Há, basicamente, um único pavimento, onde concentram-se a grande maioria das acomodações, as quais representam os setores de serviço e íntimo. Neste andar, as alas são ligadas por um corredor que atravessa o terreno em seu sentido transversal. Além desse nível, ainda encontramos um mezanino, com a varanda posterior, e o piso térreo, onde localizam-se os setores de lazer, serviço e garagens. Ademais, o térreo conta com uma estrutura que o próprio arquiteto classificou como “semi pilotis”, pois libera apenas parte da residência do solo (PODESTÁ, 1981). Enfim, conectando os três níveis, uma escada helicoidal inicia-se no térreo, sobe ao primeiro pavimento e, por fim, ao mezanino.

Figura 06: Planta térreo, primeiro pavimento e mezanino
Fonte: Fonte: PRADO, TAGLIARI, 2019, p. 66
Espacialidade
Diferente da elevação posterior privada, a elevação frontal pública não utiliza o vidro como revestimento e, como já mencionado, não apresenta um largo pórtico. Sendo assim, nota-se um esforço para que a fachada pública revele pouco do interior da residência, mantenha a privacidade e a delimitação do território. Enquanto a fachada sugere uma divisão, o piso cerâmico colorido, por outro lado, sugere um diálogo entre os ambientes, pois ele trilha o caminho da rua até as escadas que sobem para o primeiro pavimento, depois distribui-se pelas acomodações, varandas e ainda reveste a ponte que conecta as duas entradas.

Figura 07: Piso de cerâmica colorido começando na rua e adentrando a casa
Fonte: https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney-e-karla/
Considerando o formato da planta, o arquiteto escolheu manter os setores de serviço e íntimo no mesmo pavimento, com o setor íntimo na ala esquerda e o de serviço na direita. Sendo assim, houve uma intenção do arquiteto em evitar o deslocamento vertical para acessar os ambientes essenciais.
O setor social é representado, sobretudo, por ambientes ao ar livre, como o pátio e as varandas. Por meio da ponte do primeiro pavimento, mesmo que os ambientes social e de lazer estejam nos fundos do terreno, eles podem ser acessados por visitantes, sem que estes tenham que passar pelo setor íntimo. Além do mais, no térreo é possível alcançar a área de lazer aos fundos, passando pelas laterais do terreno. Portanto, a conferência de privacidade das acomodações é um ponto importante do projeto.

Figura 08: Espacialidade da Casa Sydney e Karla
Fonte: PRADO, TAGLIARI, 2019, p. 66 - COM ADAPTAÇÃO GRÁFICA
No que diz respeito às acomodações, de acordo com Tagliari e Prado (2019), estas são delimitadas e fechadas, revelando a intenção do arquiteto de incentivar a percepção espacial através da circulação pela residência, numa estratégia que Tagliari classifica como “modelo de percurso Quadro a Quadro”.
A razão de uma circulação tão extensa dizia respeito a uma contrapartida do discurso modernista, da época do projeto, quando existia um esforço enorme em eliminar ou reduzir ao máximo o corredor dos quartos (PODESTÁ, 2000, p. 60).
Por fim, a área da piscina foi pensada para atender ao aspecto de oásis, sendo ela rodeada por alamedas de palmeiras/coqueiros dispostas em filas militares que, por sua vez, também compõem a vegetação do pátio. A compreensão desse paisagismo é óbvia e direta por quem passeia pelo local, pois Podestá descreve sua organização como mais racional para “evitar o paisagismo orgânico feito por Burle Marx e filhotes, que em alguns momentos só era percebido em voos de helicópteros” (PODESTÁ, 2000).
Volumetria
As alas que contornam o pátio da “Casa Sydney e Karla”, apresentam formato em “L” inclinado e projetam-se na direção da fachada pública. O pórtico estreito, que une as alas e cria um vão central, avança ainda mais que os “Ls” e evita um efeito plano e chapado para a fachada. Tal característica, unida ao telhado inclinado e a diferença de altura entre os elementos, permite uma frontalidade que foge da monotonia visual. Além do mais, os vãos que abrigam a garagem e a estrutura pilotis também auxiliam na construção da forma frontal e no efeito de profundidade.
A fachada posterior segue a mesma lógica: telhado inclinado e pórtico projetado. A diferença aqui é seu efeito monumental, já que pórtico grandioso é apoiado por pilares grossos e seu interior é completo pela enorme parede envidraçada das varandas. Estas, por sua vez, projetam-se para além do pórtico, em formato triangular. Por último, a escadaria, que deságua para a área de lazer, também auxilia na criação de uma nova camada volumétrica da obra.

Figura 09: Volumetria das fachadas
Fonte: https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney-e-karla/
Enfim, o pátio em formato retangular, no centro da casa, cria uma abertura na volumetria, ao mesmo tempo que institui uma volumetria vertical com a presença dos coqueiros.
Rainha da Sucata
O prédio conhecido por sua forma não convencional, seguindo o estilo pós-moderno, fica localizado no maior complexo cultural do Brasil, o Circuito da Liberdade, no coração de Belo Horizonte. A princípio o local seria destinado apenas à construção de dois banheiros públicos, mas graças à feira de artesanato e arte que acontecia na praça, atual Feira Hippie, que atualmente acontece na Avenida Afonso Pena, Podestá sugeriu a construção do edifício. O que atualmente é a Casa Funarte Liberdade (Fundação Nacional de Artes) foi inicialmente pensado para ser um local de apoio ao setor de Turismo estadual e já abrigou o Museu de Mineralogia Professor Djalma Andrade.
Por mais que o projeto não tenha optado pelo óbvio, isso não significa que ele seja o completo abstrato, mas passou por um longo período de estudo de impacto arquitetônico, levando em consideração as volumetrias vizinhas e do próprio edifício, além de como esse prédio iria contar a história de Minas Gerais e da arquitetura dos anos 80. Quanto à história, coube à Rainha da Sucata se cobrir de materiais historicamente produzidos no estado, por isso das chapas de aço enferrujadas, de onde vem o nome.
Ficha Técnica
Local: Belo Horizonte -MG
Projeto: 1984/85
Obra: 1985/92
Tipologia de Uso: Institucional
Materialidade: Aço, alvenaria e concreto
Padrão arquitetônico: Pós-moderno
Área do terreno: 620,00 m²
Área construída: 1460,00 m²
Análise da planta
A composição da Rainha da Sucata representa os elementos básicos da geometria: o ponto, a linha e o plano, todos estão interligados e são extremamente necessários. Ademais o prédio possui vários outros seres geométricos planos em sua concepção, é possível notar triângulos, círculos, semi-círculos e retângulos. Além, é claro, de volumetrias, como esferas, cilindros e cubos.
O acesso ao prédio se dá unicamente pela esquina, já que é o ponto mais destacado do edifício, devido ao encontro de duas vias importantes. Esse acesso leva a um salão de recepção que é ligado a outro salão e possui dois banheiros. A única coisa que não nos permite dizer que o pavimento térreo é totalmente simétrico é que o acesso só se dá por um lado e os banheiros estão alocados no extremo oposto à entrada, mas é uma construção bem equilibrada. O pavimento térreo também possui um teatro que é acessado pela calçada, causando uma sensação de proximidade do pedestre, mesmo que não seja um visitante.

Figura 10: Planta do térreo
Fonte: hhttps://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta - COM ADAPTAÇÃO GRÁFICA
O subsolo possui acesso independente, ou seja, não é ligado por uma caixa de escada ao térreo, apenas uma escadaria na lateral do prédio, onde também está localizado a entrada para o banheiro masculino e camarim do teatro, já o banheiro feminino tem uma entrada própria na lateral oposta à entrada do prédio.

Figura 11: Planta do subsolo
Fonte: hhttps://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta - COM ADAPTAÇÃO GRÁFICA
Os outros pavimentos acima do térreo são, em termos, iguais, pois possuem a mesma distribuição de ambientes: quatro salões, uma copa, dois banheiros e uma antecâmara que leva à caixa de escada, além de um átrio que é dividido pela ponte que leva aos banheiros da torre. A diferença entre os pavimentos-tipo é a área deles, aumentando de baixo para cima, como representado no corte longitudinal.

Figura 12: Planta do pavimento tipo
Fonte: hhttps://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta - COM ADAPTAÇÃO GRÁFICA

Figura 13: Corte longitudinal
Fonte: hhttps://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta - COM ADAPTAÇÃO GRÁFICA
Espacialidade
O edifício causa, em primeiro momento, certa estranheza pelo seu estilo arquitetônico que contrasta com tantos outros prédios históricos da praça, mesmo que eles sejam de épocas distintas. Mas os arquitetos conseguiram fazer com que um prédio pós-moderno conversasse com o entorno e convidasse os pedestres com seu teatro que foi alocado como uma extensão da calçada, além dos banheiros do subsolo que dão diretamente para a calçada. Isso se deve ao fato desses ambientes realmente serem uma extensão, já que o prédio não possui afastamento frontal e lateral.

Figura 14: Teatro da Rainha da Sucata e Testada principal
Fonte: https://historiaartearquitetura.com/2017/11/03/cor-arte-e-arquitetura-rainha-da-sucata/
Ao elaborar a planta, considerando a necessidade inicial, que era a criação de um banheiro público, como explicado no início, foi então feito todo um andar destinado a isso - o subsolo, como explicitado na planta do pavimento no tópico anterior. Já no térreo a preocupação foi criar um acesso bem visível, o que guiou todo o projeto, além da torre de banheiro que se inicia no térreo e vai até o 3° andar. Enquanto os outros pavimentos a distribuição se deu mais com o intuito de criar espaço para exposições, fixas ou não, de forma a obedecer a simetria da construção.
Volumetria
A Rainha da Sucata possui uma volumetria caraterística do pós-modernismo - sobreposição, mas que destoa da arquitetura neoclássica, ao mesmo tempo que usa seus elementos. O uso exagerado de arcos e cilindros - elementos comuns nas construções neoclássicas - faz uma crítica à real necessidade desses elementos. Outra característica resgatada foi o pilotis do modernismo, mas dessa vez ele é mais elaborado, tendo o uso do espaço bem aproveitado com a presença do teatro.
Óbvia continuidade urbana, princípio fundamental da sua inserção volumétrica mas rompe com os princípios modernistas, incorpora discursos, recusa a invisibilidade, o mimetismo e propõe instigantemente perguntas. (FRACALOSSI, 2011)
A Rainha deixa bem claro o seu estilo ao brincar com as formas, aglomerando-as e alterando a escala, como é o caso de sua fachada frontal, que possui chapas quadradas de aço cobrindo os pilares azuis e a esfera que remete a uma laranja, além da torre de banheiros que mais parece um pilar superdimensionado, o que parece ter sido inspirado no Edifício de Habitação em Berlim do Aldo Rossi.

Figura 15: Fachada Rainha da Sucata e Edifício de habitação de Aldo Rossi em Berlim
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta e https://historiadaarquitetura3.files.wordpress.com/2013/05/aula-10-hau3.pdf
Por fim, a forma como os andares se alargam à medida em que você sobe o olhar é algo marcante e contrasta bastante com os prédios históricos que é o inverso disso, quanto mais alto, mais estreita construção. Além de que a presença do arco no topo do prédio remete ao frontão do prédio do Museu de Minas e Metais, por exemplo.
Escrito por
Giovanni Melo Fonseca Bacellar
Ingridy Vieira Ribeiro
Isaac Victor Lima Ferreira
Laiza Magalhães Ferreira
REFERÊNCIAS
PARTICIPANTES. Telaa, [20--], Disponível em: <http://telaa.com.br/participantes2.html> Acesso em: 18 jan. 2021.
MAIA, Eolo; VASCONCELLOS, Maria Josefina de; PODESTÁ, Sylvio E. de. 3 arquitetos. Belo Horizonte: Pampulha, 1982.
MAIA, Éolo; VASCONCELLOS, Maria Josefina de; PODESTÁ, Sylvio Emrich de. 3 arquitetos: 1980-1985. Belo Horizonte: Cultura, 1985.
SEGRE, Roberto. Arquitetura em Belo Horizonte. Sylvio Emrich de Podestá, o “gambá” bem humorado. Arquitextos, São Paulo, ano 02, n. 020.00, Vitruvius, jan. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/02.020/810> Acesso em: 14 jan. 2021.
SYLVIO Emrich de Podestá. In: DICIONÁRIO de Artistas do Brasil. Disponível em: <http://www.brasilartesenciclopedias.com.br/nacional/podesta_sylvio.htm> Acesso em: 15 jan. 2021.
PODESTÁ, Sylvio. 1981/2007: Casa Sydney e Karla. Sylvio E. de Podestá | Arquitetura, 2000. Disponível em: <https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney-e-karla/> Acesso em: 12 jan. de 2021.
PRADO, Marcos de Oliveira; TAGLIARI, Ana. Análise das residências projetadas por Sylvio de Podestá. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v.26, n.38, p. 51-82, 1º sem. 2019. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/343997> Acesso em: 12 jan. 2021.
PODESTÁ, Sylvio. 1985/1992: Rainha da Sucata. Sylvio E. de Podestá | Arquitetura. Disponível em: <https://www.podesta.arq.br/projetos/residencias/projeto-casa-sydney
-e-karla/> Acesso em: 20 jan. de 2021.
DESAFIO Acadêmico: Rainha da Sucata. 2016. 63 p. Dissertação (Graduação) - FUMEC, Belo Horizonte, MG, 2016.
FRACALOSSI, Igor Clássicos da Arquitetura: Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães / Éolo Maia e Sylvio de Podestá. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-15674/classicos-da-arquitetura-museu-de-mineralogia-professor-djalma-guimaraes-eolo-maia-e-sylvio-de-podesta> Acesso em 20/01/2021
EDITORIAL. Vão Livre, Belo Horizonte, n. 0, jun. 1979. Disponível em: <https://www.podesta.arq.br/publicacoes/revista-vao-livre/revista-vao-livre/> Acesso em: 14 jan. 2021
PODESTÁ, Sylvio. Revista Pampulha | Jornais e Revistas, 2008. Disponível em: <https://www.podesta.arq.br/publicacoes/revista-pampulha/revista-pampulha/> Acesso em: 14 jan. 2021
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