LINA BO BARDI
- 3 de set. de 2020
- 17 min de leitura
Atualizado: 16 de set. de 2020
Arquiteta modernista ítalo-brasileira, revolucionou a história da arquitetura no Brasil com seus projetos.
Vida e carreira
Lina Bo Bardi nasceu em 1914 na cidade de Roma, Itália e faleceu em 1992, no Brasil O início de sua carreira começou em Milão, de 1940 a 1946, entre o estúdio do arquiteto Gio Ponti e o seu, montado com Carlo Pagani, nomeado Estúdio No e Pagani, onde executou inúmeros projetos de interiores, reformas de apartamento, mobiliário e museografia. Ainda, neste período, participou das Editoriais da Domus, Lo Stile, Grazi e da revista A com colegas. Lina ainda escreveu em jornais e revistas para o público feminino e também para o público especializado (GRINOVER, 2010).

FIGURA 01: Lina Bo Bardi
FONTE: VIVADECORA, 2020
De acordo com Grinover (2010), os estudos relacionados ao artesanato italiano, que foram os aprendizados mais significativos, desenvolvidos por Gio Ponti e Giuseppe Pagano, que Lina trará ao Brasil.
“De par com a elite arquitetônica de seu País de origem, Lina Bo Bardi traria na bagagem ao Brasil um olhar peculiar sobre a formação de uma cultura genuinamente moderna e amalgamada aos homens” (GRINOVER, p. 31, 2010).

FIGURA 02: Desenho de Lina Bo Bardi, ilustração para o artigo “certe che vogliono una ‘certa’ intimitá nella casa”. In Lo Stile sem data
FONTE: GRINOVER, p. 29, 2010
Viveu na Itália até o final de 1946, quando mudou-se para o Rio de Janeiro, Brasil, após casar-se com o historiador, jornalista e marchand italiano Pietro Maria Bardi, que recebeu um convite para trabalhar no Brasil. Entre 1947 a 1958 Lina participou do projeto Museu de Arte de São Paulo (MASP) juntamente com seu marido, que foi convidado para criar e dirigir o museu (GRINOVER, 2010).

FIGURA 03: Lina Bo Bardi entre os pilares e jardins da Casa de Vidro em São Paulo
FONTE: VIVADECORA, 2020
Já em São Paulo, envolveu-se com os aspectos educativos e inicia uma intensa pesquisa sobre o artesanato nordestino e arquitetura brasileira, onde devido a este estudo mudou-se para Salvador por sete anos (1958 a 1964), montando um “museu” na Bahia, a convite da família Magalhães, onde dirigiu o museu e fez outras obras e atividades, até o fechamento pelos militares, retornando para São Paulo (GRINOVER, 2010).

FIGURA 04: Lina Bo Bardi na cadeira de beira de estrada. Inspirada em cadeira africana feita de galhos e corda, 1967.
FONTE: GRINOVER, p. 45, 2010
“Depois da interrupção, em 1964, dessa experiência “utópica”, em Salvador, Lina passa a levar a bandeira de defesa de uma arte nacional na borda na cultura de massa para todos os seus trabalhos, juntamente com outros artistas (...)” (GRINOVER, p. 43, 2010).
Esse momento coincide com a construção do edifício sede do MAPS em São Paulo, onde o projeto foi elaborado em 1967 e concluído somente em 1968, tornando esse marco a finalização da chegada de Lina Bo Bardi e sua miscigenação com a cultura brasileira (GRINOVER, 2010).

FIGURA 05: Lina Bo Bardi no MASP em construção
FONTE: VIVADECORA, 2020
Após a inauguração do MASP (1969-1971), Lina entrou para as forças mais radicais de combate a ditadura, que por este motivo, recebeu um mandado de prisão e uma saída forçada do país e até 1974 ficou entre idas e vindas no Brasil. Na Itália, ela ficou com a família, e há informações que neste período perdeu seu pai, e com isso sua mãe retorna para o Brasil com ela (GRINOVER, 2010).
Após o retorno ao Brasil, Lina continuou com publicações sobre suas experiências e os novos comportamentos da década seguinte, além de continuar defendendo a integração da arte popular no caminho de um ambiente construído, harmônico e nacional até o seu falecimento em 1992 (GRINOVER, 2010).
Formação
Lina Bo Bardi iniciou seus estudos no curso de Arquitetura, na Faculdade de Arquitetura da Universidade dgli Studi di Roma, em 1934. Ela formou-se na faculdade, de corrente conservadora no ano de 1939, bem no início da Segunda Guerra Mundial (GRINOVER, 2010).
Obras e publicações em ordem cronológica
De acordo com GRINOVER (2010), a trajetória de Lina Bo Bardi pode ser dividida em 03 (três) períodos: o período italiano, a primeira fase no Brasil que vai de sua chegada até a inauguração do MASP na avenida Paulista em 1968, e a ultima fase que abrange os “exilio” em 69/70 e 71/74 até seu falecimento em 1992, conforme apresentado abaixo:
1º período: Principais trabalhos
· 1934 a 1939 - Curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Università degli Studi di Roma.
· 1940 a 1946 - Estúdio Bo e Pagani - fundou o escritório de arquitetura com Carlos Pagani, executou inúmeros projetos de interiores, reformas de apartamentos, mobiliário e museografia. Os dois participaram das editorias da Domus, Lo Stile, Grazia e da revista A com colegas como Gio Ponti, Ernesto Rogers e Bruno Zevi. Lina ainda escreveu em jornais e revistas para o publico feminino como Milano Serra, Bellezza ou público especializado como Vetrina e Negozi.
2º período: Principais trabalhos
· 1947|1954 - MASP-7 de abril, Habitat e IAC.
· 1948|1951- Estúdio Palma com Giancarlo Palanti, Valéria Cirell e Pietro M. Bardi.
. 1951 - Projeto da Casa de Vidro, desenhos de joias e roupas, projeto do Museu de Arte em São Vicente[SP].
· 1951/1958 - Estudos de residências populares, edifícios de residência popular como Taba Guainazes com Pieri Luigi Nervi, estudos de estruturas flexíveis e multifuncionais.
· 1955-1957 - Aulas na FAUUSP.
· 1958 - Aulas na UFBA, Casa Valéria Cirell(SP), casa Chame- Chame(BA), casa Mario Cravo Jr.(BA).
· 1959-1963 - Período de formação e fundação do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAMBA) e do Museu de Arte Popular, de pesquisa sobre a arte popular no nordeste, de contato com a vanguarda baiana da década de 60, de projetos cenográficos e expositivos. Destacamos a cenografia da exposição Bahia no parque do Ibirapuera (1959) e curadoria e cenografia da exposição Nordeste (1963) no Solar do Unhão em Salvador.
· 1957/1968 - Projeto e obra MASP da Av. Paulista em São Paulo, projeto do Solar do Unhão em Salvador, projeto Museu do Mármore em Carrara, Itália , projeto do Conjunto das Artes em São Paulo, projeto do Museu do Butantã̃ em São Paulo, projeto do Condomínio Itamambuca em Ubatuba, projeto da cadeira de beira de estrada.
· 1951-1968 - Período dos textos mais críticos sobre a cultura arquitetônica nacional e a defesa de sua autenticidade frente às criticas internacionais. Escreve os textos mais
· importantes sobre o valor do desenho industrial e o papel da arte popular alimentando a industrialização de objetos nacionais.
3º período: Principais trabalhos
· 1969 - Exposição “A mão do povo brasileiro” no MASP.
. 1970/75 - Exilio e muita cenografia para teatro e cinema.
. 1976/1980 - Projeto Igreja E. Santo do Cerrado, Uberlândia
. 1977/1986 - Projeto Centro de Lazer SESC-Pompéia, São Paulo.
. 1981 - Concurso Vale do Anhangabaú, São Paulo.
· 1984 - Projeto e obra Teatro Oficina.
· 1982/1986 - Projetos de curadoria de exposições.
· 1986/1989 - Projetos e obras de recuperação do centro histórico de Salvador, plano urbano e projetos pontuais como a Casa do Benin, o restaurante Coatí, a ladeira da Misericórdia.
. 1991 - Concurso para o Pavilhão do Brasil em Sevilha 92 e Projeto para a prefeitura de São Paulo.
Vivadecora (2020) cita algumas frases da Lina Bo Bardi, para inspiração, conforme apresentado abaixo:
“Foi então, enquanto as bombas demoliam sem piedade a obra e a obra do homem, que compreendemos que a casa deve ser para a vida do homem, deve servir, deve consolar; e não mostrar, numa exibição teatral, as vaidades inúteis do espírito humano…”
“Eu não tenho escritório. Trabalho resolvendo os problemas de projeto à noite, quando todo mundo dorme, quando o telefone não toca, e tudo é silêncio. Depois eu monto um escritório com os engenheiros, os técnicos e os operários no próprio canteiro.”
“A finalidade da casa é a de proporcionar uma vida conveniente e confortável, e seria um erro valorizar demais um resultado exclusivamente decorativo.”
“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.”
“A produção em massa, que hoje deve ser tida em consideração como a base para a arquitetura moderna, existe na própria Natureza e, intuitivamente, no trabalho popular.”
“Portanto, se a gente acreditar que tudo o que é velho deve ser conservado, a cidade vira um museu de cacarecos. Em um trabalho de restauração arquitetônica é preciso criar e fazer uma seleção rigorosa do passado. O resultado é o que chamamos de presente histórico”
OBRAS DE LINA BO BARDI
Sesc Pompeia
Breve Histórico
O projeto que gerou o Sesc Pompéia foi realizado em duas etapas: a primeira, entre os anos de 1977 e 1982, com a recuperação dos galpões originais; a segunda, de 1982 a 1986, durante a construção dos edifícios da área esportiva. Idealizado por Lina Bo Bardi, com a colaboração dos arquitetos André Vainer e Marcelo Ferraz, o complexo foi construído a partir de uma antiga fábrica de tambores e hoje é um centro de lazer que reúne teatros, quadras esportivas, piscina, lanchonete, restaurante, espaços de exposições, oficinas, área de leitura e internet livre, entre outros.
Para que uma fábrica de tambores se transformasse em um grande local de cultura, foram necessários alguns processos de restauração. Os profissionais responsáveis pelo restauro da antiga fábrica, liderados por Lina Bo Bardi, projetaram recuperar e manter a antiga fábrica a partir de uma visão contemporânea. Ao mesmo tempo em que pensaram em colocar o novo nos espaços, preservaram antigos elementos do que funcionavam, como os latões de lixo com referência aos antigos tambores, deixaram canos e tijolos expostos, até mesmo o córrego que passa no complexo permaneceu lá.
Ficha técnica
Localização: Rua Clélia, 93, Lapa - São Paulo-SP
Autoria: desconhecida
Data da Construção: 1938
Uso Original: Fábrica de Tambores
Área: 16.573,00 m² terreno - 22.026,02 m² construída
Ano da restauração: 1977/1982
Projeto de Arquitetura: Lina Bo Bardi
Uso Atual: Centro cultural e de lazer.

FIGURA 06 Foto vista geral do complexo
FONTE: SESCSP, 2016
Análise da planta
Segundo Marcelo Ferraz, Lina queria democratizar o espaço para que todos se sentissem livres no lugar, então ao invés de centro cultural e desportivo, utilizaram o nome Centro de Lazer. Ela dizia que o cultural “pesa muito e pode levar as pessoas a pensarem que devem fazer cultura por decreto. E isso, de cara, pode causar uma inibição ou embotamento traumático”. O termo desportivo, segundo ela, implica no esporte como competição. Um rumo nocivo na sociedade contemporânea, que já é competitiva. Então, simplesmente lazer. “O novo centro deveria fomentar a convivência entre as pessoas, como fórmula infalível de produção cultural (sem a necessidade do uso do termo). Deveria incentivar o esporte recreativo, com uma piscina em forma de praia para as crianças pequenas ou para os que não sabem nadar; quadras esportivas com alturas mínimas abaixo das exigidas pelas federações de esporte e, portanto, inadequadas à competição. A ideia era reforçar e fomentar a recreação, o esporte “leve”. Assim, programa e projeto se fundiram, indissociáveis, amalgamados.” (FERRAZ, 2008, Vitruvius)
O projeto possui um eixo principal, “rua interna”, e ao longo deste eixo são distribuídas as atividades e os setores. Na entrada do complexo, pela Rua Clélia, ao lado direito encontra-se o setor administrativo, seguido da área de exposições, biblioteca, espaço de estar, vestíbulo, teatro, ateliês e laboratório fotográfico. Do lado esquerdo, localizam-se o refeitório dos funcionários, uma pequena praça, cozinha, restaurante e as oficinas de manutenção. Ao fundo e à esquerda do terreno localizam-se os blocos esportivos e a caixa d’água.

FIGURA 07: Desenho em 3D do complexo
FONTE: BEHANCE, 2016

FIGURA 08: Elevações e planta com legenda para identificação
01 Atividades gerais – exposições, 02 Atividades gerais – salas de leitura, 03 Atividades gerais – salas de estar, 04 Foyer, 05 Teatro, 06 Ateliers, 07 Deck, 08 Rua interna, 09 Bloco de serviços do restaurante, 10 Restaurante, 11 Almoxarifado, 12 Caixa d’água, 13 Bloco esportivo quadras, 14 Passarelas e 15 Bloco esportivo vestiário.
FONTE: Bechara, Renata C., A atuação de Lina Bo Bardi na criação do SESC, p. 80.
Atividades gerais
Espaço para exposições, área de leitura, área de estar, biblioteca e jogos. Nele tem uma lareira e um espelho d’água, além da alguns volumes de concreto aparente criando mezaninos.

FIGURA 09: Foto galpão de atividades gerais
FONTE: O VERAO QUE VEM, 2013

FIGURA 10: Desenho em 3D do galpão de atividades gerais
FONTE: BEHANCE, 2016
Foyer
Um dos corredores centrais que dava acesso a outros pavilhões foi recoberta com tesouras de madeira e telhas de vidro e o espaço transformou-se no foyer do teatro. Sobre esta rua interna transformada em foyer, Lina projetou os camarins, salas de luz e de som. (FURQUIM, 2009, Vitruvius).

FIGURA 11: Foto do foyer
FOTO: Zeuler R. Lima
Teatro
Possui duas plateias que se voltam para um palco central. Camarins e áreas de apoio ficam sobre volumes suspensos de concreto aparente. Para correção acústica, cabines com projeção e chapas ferro pintado preto no teto.

FIGURA 12: Foto do teatro
FONTE: Divulgação Veja SP

FIGURA 13: Desenho em 3D do teatro e do foyer à esquerda
FONTE: BEHANCE, 2016
Ateliê
Ateliês e oficinas de marcenaria, gravura, serigrafia, cerâmica e gráfica se ficam num dos galpões, separadas por divisórias de concreto aparente. Próximo a esse galpão, tem um laboratório fotográfico, estúdio música, sala de danças e vestiários.

FIGURA 14: Foto do Ateliê
FOTO: Marco Antônio

FIGURA 15: Desenho em 3D do ateliê e do laboratório
FONTE: BEHANCE, 2016
Deck
Um píer de madeira que fica sobre um canal usado para escoamento das águas pluviais de toda a região. (foi constatado durante um estudo feito pelos responsáveis pela construção que a área próxima ao SESC é a mais baixa de toda a região do Pompéia, sendo assim, é uma área inundável).

FIGURA 16: Foto do Deck
FONTE: Acervo Marcelo Ferraz
Restaurante
Restaurante com cozinha industrial e a choperia localiza–se em um dos galpões. Ao centro do espaço, um palco para apresentações.

FIGURA 17: Foto do restaurante
FONTE: SESCSP, 2013

FIGURA 18: Desenho em 3D do restaurante/ choperia
FONTE: BEHANCE, 2016
Blocos
Blocos para atividades esportivas: o maior tem cinco pavimentos com pé–direito duplo, onde estão as quadras e a piscina. As aberturas se apresentam como formas irregulares. Toda a circulação é feita pelo bloco menor.
O bloco menor, de 11 pavimentos, possui 2 elevadores, escada helicoidal interna e escada de segurança externa; salas de apoio ao bloco esportivo (sala de exame médico, atendimento ao público); lanchonete no térreo; vestiários; salas de ginástica; sala de dança e sala de palestra.

FIGURA 19: Fotos dos blocos
FOTO: Nelson Kon

FIGURA 21: Desenho em 3D das torres
FONTE: BEHANCE, 2016
Área da administração
Possui 2 pavimentos e se encontra logo na entrada do complexo.

FIGURA 22: Desenho em 3D da área administrativa
FONTE: BEHANCE, 2016
Espacialidade
Para a construção do Sesc planejavam uma grande demolição da antiga edificação constituída por galpões e torres que está situada na rua Clélia no bairro Vila Pompéia, porém Lina Bo Bardi optou que a melhor maneira para realizar a construção, era que fosse feita a restauração e a adaptação na fábrica de tambores que funcionava naquele local.
A área do terreno com 16.573,00 m² e com uma área construída no total de 27.288,00 m², não possui declive muito acentuado pois é uma área que funcionava como fábrica, há grandes espaços livres entre os galpões que são como ruas internas onde as pessoas podem passear e circular entre eles. O lote está em uma área urbana e para muitos traz inúmeras memórias por fazer parte da história daquele local a tanto tempo, o conjunto de prédios interligados, com essa arquitetura singular faz com que as áreas conversem entre sim e pela localização as atividades disponíveis no local funciona como um refúgio em meio a agitação de São Paulo.

FIGURA 23: Vista geral da fábrica da Pompéia antes da reforma
FONTE: VITRUVIUS, 2008

FIGURA 24: Maquete do complexo
Fonte: Vitruvius, 2008

FIGURA 25: Rua interna
Fonte: SESCSP, 2020

FIGURA 26: Vista Aérea
Fonte: Nelsonkon, 2019
Volumetria
O complexo é formado por dois volumes prismáticos de concreto aparente, ao lado dos antigos galpões: um prisma retangular de 1200 m² de base e 45 m de altura que possui aberturas irregulares no lugar das janelas; um segundo prisma, possui 224 m² de base e 52 m de altura com janelas quadradas distribuídas de forma aleatória pela fachada, estes ficam ligados por oito passarelas em concreto protendido, vencendo vãos de até 25 m. Além desses prismas, existe um cilindro de 8 m de diâmetro e 70 m de altura.
O prisma maior tem cinco andares, com 8,60 m de altura entre pisos e suas lajes nervuradas protendidas medem 1 m de altura. A cada pavimento do prisma maior, existem quatro janelas de cada lado das faces menores. Já o prisma com base menor possui dez pavimentos com altura de 4,30 m entre pisos e dois com altura de 3,60 m. Esse prisma possui uma angulação de 33º em relação ao maior, suas janelas são quadradas e menores em relação ao outro prisma, porém não apresentam um alinhamento ortogonal rígida, aparecendo dispostas em diversas coordenadas.
Quatro níveis de passarelas de concreto protendido interligam os dois prismas, tendo 2 m de largura e peitoris de 1,20 m. Abaixo dessas passarelas, passa o córrego Água Preta, sobreposto pelo deck de madeira.

FIGURA 27: Foto vista das janelas irregulares
FONTE: SESCSP, 2019

FIGURA 28: Imagem das passarelas
FONTE: ARCHDAILY, 2012
Aspectos inovadores
Tudo no SESC Pompeia é bem inovador, especialmente se tratando da época em que foi construído. Mas as janelas do edifício esportivo é o que se destaca quando se pensa nessa obra: janelas em formato de irregulares, como crateras, compõem uma característica especial para os padrões de São Paulo. Os colaboradores do SESC entenderam isso como uma estratégia de Lina para dificultar a colocação de vidro futuramente, porque ela dizia: “Tenho pelo ar condicionado o mesmo horror que tenho pelos carpetes, assim, surgiram os buracos pré-histórico das cavernas sem vidro, sem nada. Os buracos permitem uma ventilação cruzada permanente.” Ela e os estagiários, pensando em proteger os pavimentos em dias de chuva ou na possibilidade das bolas dos jogos caírem do edifício, colocaram treliças vermelhas que são inspiradas na arquitetura colonial que ela conheceu em Salvador.

FIGURA 29: Janela na parte externa
FONTE: Paulisson Miura, 2012

FIGURA 30: Janela parte interna
FONTE: ARCHDAILY, 2014
As oito passarelas que interligam um bloco ao outro também são elementos interessantes e inovadores. Cada uma apresenta um desenho diferente, ainda que sob as mesmas regras: partem de uma mesma abertura no prisma menor e se ramificam levando a duas aberturas simétricas no prisma maior. A união delas forma um V e uma delas, a terceira, forma um Y.

FIGURA 31: Passarela em Y
FONTE: VITRUVIUS, 2012

FIGURA 32: Vista sob a passarela
FONTE: AARQUITETA, 2014
Casa de Vidro

FIGURA 33: Casa de vidro
FONTE: ARCHDAILY, 2020
Breve Histórico
A casa de vidro foi projetada para ser a residência do casal Pietro e Lina Bo Bardi no Brasil, onde o casal habitou por cerca de 40 anos, foi construída na década de 50, no bairro Morumbi em São paulo e é um dos marcos do modernismo brasileiro, sendo ela o primeiro projeto realizado por Lina aqui no Brasil e também a primeira casa do bairro Morumbi na grande São paulo.
Ficha técnica
Nome popular: Casa de Vidro
Arquiteta: Lina Bo Bardi
Local: Estado de São Paulo; Cidade de São Paulo, Bairro Morumbi.
Tipologia de Uso: Residencial.
O padrão arquitetônico usado por Lina é o modernismo internacional, mais conhecido como arquitetura de ferro e vidro, sendo ela uma das precursoras dele no país, esse movimento, faz-se presente ao observarmos os elementos projetados da casa que correspondiam aos pontos tratados por Le Corbusier como os principais de uma arquitetura modernista, sendo eles: Pilotis, grandes vidros que cobrem boa parte da estrutura, planta livre ,não necessita de paredes estruturais, o que possibilita espaços abertos e paredes que não têm seus locais pré definidos, e por último a integração da casa com o meio ambiente.
Análise da planta
A casa de vidro foi onde Lina teve a oportunidade de experimentar os conceitos do modernismo, colocando os em prática em sua própria moradia. “todas as lições do movimento moderno, toda garra de construir e experimentar, reprimidas ou represadas por anos de guerra, estão presentes neste projeto singular”, como relata Marcelo Ferraz [1999: s/p].
Primeiro pavimento

FIGURA 34: Planta Pavimento Térreo
FONTE: Cristina Garcia Ortega
No primeiro pavimento encontramos os pilotis que sustentam a casa, a entrada da casa, um depósito (15) e um cômodo para máquinas (16). Um detalhe icônico desse projeto é um pátio interno chamado de pátio das rosas (4), no qual foi preservada uma árvore do terreno que adentra por dentro da casa, deixando claro esse contato íntimo com a natureza, e também tem papel fundamental da climatização da casa. O acesso ao segundo pavimento se dá por uma escada de desenho simples, feita com aço e degraus de granito.
Segundo pavimento

FIGURA 35: Planta 2° Pavimento
FONTE: Cristina Garcia Ortega
No segundo pavimento é onde encontramos a maior parte dos cômodos da casa assim como também seu elemento principal, a fachada frontal com suas grandes janelas de vidro, abrindo a paisagem para o verde e com sua iluminação natural. Nesse espaço é onde temos a biblioteca (2), a sala de estar (3) e a sala da lareira, a partir da biblioteca temos o acesso aos dormitórios (7), o closet (8) e a cozinha (9), com um adendo para este cômodo especial que foi projetado com muito carinho especialmente para o companheiro de Lina, Pietro, que tinha uma grande admiração pela culinária, por isso a cozinha contava com apetrechos de uma cozinha industrial, a cozinha também foi planejada para atender a nova demanda da vida das mulheres que começaram a sair para trabalhar e necessitavam de uma cozinha bem pensada para isso Lina utilizou os estudos da arquiteta Grete Schütte-Lihotzkyn. Sendo os outros cômodos da casa: quarto dos empregados (10), sala dos empregados (11), rouparia (12) e varanda (13) e o segundo pátio interno da casa (14) que trazia climatização para a área íntima dos dormitórios.
Dessa forma, podemos dividir a construção em 4 módulos do segundo pavimento,sendo eles, a área social, área íntima, cozinha e área destinada aos funcionários, sinalizamos também as áreas verdes, que são as áreas abertas da casa parte fundamental para o com o contato com a natureza e ventilação natural da casa.

FIGURA 36: Planta 2° Pavimento - Divisão dos espaços
FONTE: Cristina Garcia Ortega, modificada.
Legenda:
Amarelo: Área social
Vermelho: Área íntima
Azul: Cozinha
Roxo:Área destinada aos funcionários
Espacialidade
O terreno escolhido por Lina Bo Bardi situado no bairro Morumbi era uma antiga fazenda de chás que pertencia a família Muller Carioba. A área do terreno era de 9.000 m², no entanto apesar do bairro Morumbi na época não ser ocupado (a casa de vidro foi a primeira construção) nós não podemos dizer que a vegetação do terreno era originalmente da mata atlântica, pois como antes pertencia a uma fazenda de chás é natural se pensar que a vegetação original foi substituída.
O terreno possui uma declividade considerável, o que é ponderado no projeto, com intenção de preservar as características do terreno Lina fez com que a parte da frente da casa estivesse apoiada sobre pilotis e a parte de trás ficou apoiada sobre muros de concreto ligados ao terreno. Esse contraste entre a leveza da parte da frente e a solidez da parte de trás da casa é um aspecto muito valorizado no projeto, que acaba por demarcar muito bem as espacialidades da construção.

FIGURA 37: Maquete
Fonte: Ana Baronceli

FIGURA 38: Planta de situação
FONTE: ARCHDAILY,2020

FIGURA 39: Foto do terreno
Fonte:Ana Paula Campos Gurgel
Volumetria

FIGURA 40: Elevações
FONTE: Cristina Garcia Ortega.

FIGURA 41: Elevações
FONTE: Cristina Garcia Ortega.
A volumetria da casa de vidro é simples e limpa, respeitando a estética do modernismo -princípios de Le Corbusier-, a fachada frontal consiste em um formato retangular que se estende até o fim do bloco denominado caixa de vidro, o restante da casa é dividida em outros retângulos que cumprem suas respectivas funções, sendo: área íntima, cozinha e área destinada aos funcionários.
Ainda na sua parte frontal, suspensa por pilotis temos a ideia de um bloco coberto de leveza, tanto por estar acima do terreno por pilotis esguios, quanto pelo material empregado que integra o ambiente ao interior da casa e favorece ainda mais a sensação de estar flutuando na casa. Embora as outras partes da casa estejam seguindo o mesmo padrão, retangular a ideia de que estão ligadas diretamente ao solo e com o material principal sendo o concreto, a impressão deixada é de que a estrutura como um todo carrega um certo peso que a fixa ao solo.
Modenatura
A fachada emblemática nos revela dois pontos de rítmicos a serem destacados no projeto, o primeiro é o espaçamento entre os pilotis, cumprindo o mesmo distanciamento entre eles trazendo inclusive benefícios estruturais.
Outra parte composta de ritmo no projeto da Lina, são as esquadrias do que podemos chamar de parede em fita, as quais seguem um espaçamento igual entre elas.

FIGURA 42: Fachada
Fonte: Instituto Lotta
Aspectos inovadores
É notável como a Lina aborda os aspectos inovadores que o modernismo trouxe através dos 5 pontos do Le Corbusier, como a planta livre, no primeiro bloco da casa, o salão da caixa de vidro, temos uma extensão considerável de um vão sem que haja uma parede com a função estrutural, apenas os seguimentos dos pilotis que elevam a casa e transmitem a leveza da construção são os responsáveis pela sustentação estrutural da mesma.
Contudo, alguns outros aspectos como a integração da casa com o meio ambiente, também chama a atenção, uma árvore, mantida estrategicamente no meio do bloco principal, da graça ao ambiente e trás uma conexão ainda mais profunda entre a casa e seu entorno. Outro fator também de grande importância dentro desses pontos modernistas é a janela em fita, que é elevada a uma parede que cobre o primeiro bloco inteiro de vidro, trazendo ainda mais a sensação de conexão com o ambiente externo e fluidez.

Figura 43: Casa atualmente.
Fonte: Alison Lima.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SESC POMPEIA. São Paulo, 30 jan. 2015. Disponível em: https://www.anualdesign.com.br/saopaulo/projetos/1228/sesc-pompeia/. Acesso em: 20 ago. 2020.
ARCH DAILY. Clássicos da Arquitetura: Casa de Vidro / Lina Bo Bardi. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-12802/classicos-da-arquitetura-casa-de-vidro-lina-bo-bardi. Acesso em: 3 ago. 2020
______________. Clássicos da Arquitetura: SESC Pompéia / Lina Bo Bardi. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-153205/classicos-da-arquitetura-sesc-pompeia-slash-lina-bo-bardi/>. Acesso em: 20 ago. 2020.
AARQUITETA. Estudo de caso Sesc Pompeia de Lina Bo Bardi. Disponível em: <https://www.aarquiteta.com.br/blog/sesc-pompeia-curiosidades-historia-e-etc/>. Acesso em: 20 ago. 2020.
BECHARA, Renata Carneiro. A Atuação de Lina Bo Bardi na Criação do Sesc Pompéia. 2017. 198 p. Dissertação (Mestrado) - Instituto de Arquitetura da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2016. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/102/102132/tde-11042017-111444/publico/CorrigidaRenataBechara.pdf>. Acesso em: 01 set. 2020.
FERRAZ, Marcelo Carvalho. Numa velha fábrica de tambores. Sesc Pompeia comemora 25 anos. Vitruvius, São Paulo, ano 08, p. 01-01, 1 abr. 2008. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897>. Acesso em: 1 set. 2020.
GRINOVER, Marina Mange. Uma ideia de arquitetura: escritos de Lina Bo Bardi. 2010. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, University of São Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em:
<https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-01062010-113936/publico/Dissertacao_M_Grinover_Completa.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2020.
LIMA, Evelyn Furquim Werneck. Numa velha fábrica de tambores. Estudo de relações simbólicas entre espaços teatrais e contextos urbanos e sociais com base em gráficos de Lina Bo Bardi. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/58/>. Acesso em: 20 ago. 2020.
Autores:
Joyce Emily Ataide Rodrigues
Kamilla Oliveira Silva
Raquel Suelen Linhares de Souza
Regiane dos Santos Cardoso
Saulo Henrique Marques Saraiva
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