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Jaime Lerner

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • 16 de dez. de 2021
  • 9 min de leitura

Atualizado: 27 de dez. de 2021


Filho dos imigrantes judeus Félix Lerner e Elza Lerner, ambos de origem polonesa, Jaime Lerner (fig. 1) nasceu em Curitiba no dia 17 de dezembro de 1937 (CULTURE, 2015). Embora tenha ganhado fama como arquiteto e urbanista, sua primeira formação foi a de engenheiro civil, na Universidade Federal do Paraná, em 1961, graduando-se em Arquitetura e Urbanismo em 1964 pela mesma universidade, após concluir sua especialização em Paris (Braga, 2009).




Figura 1 - Jaime Lerner

Fonte: https://bit.ly/3vPyObU


No ano de 1965, Lerner foi um dos fundadores do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), uma autarquia do executivo municipal, tornando-se seu presidente em 1968.


Na mesma movimentada década, tornou-se professor de planejamento urbano do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade na qual se graduou (UFPR), exerceu a presidência do Instituto dos Arquitetos do Paraná, ganhou concurso para a construção do Centro Turístico de San Sebastián, no país Basco, participou da equipe que representou o Brasil na Bienal de Jovens Arquitetos em Paris e assessorou diversos projetos de planejamento urbano em cidades brasileiras e estrangeiras.


Graças ao seu trabalho no IPPUC, o então governador do Paraná, León Pérez, indicou Lerner ao governo para assumir a Prefeitura de Curitiba em 1970 (PLURAL, 2021; EL PAÍS, 2018) (o Brasil passava pela ditadura militar, período no qual governadores e prefeitos de capitais eram indicados, não eleitos).


Logo em seu primeiro mandato (1971 - 1974), o Prefeito Jaime Lerner iniciou a concretização do Plano Diretor da cidade, do qual ele participou da elaboração junto ao IPPUC, implantando projetos considerados polêmicos para época (e que também o seriam para hoje), como a transformação da Rua XV de Novembro no primeiro calçadão do Brasil (CULTURE, 2015).


Sua medida mais inovadora em conjunto com sua equipe inserida na prefeitura, no entanto, foi a implementação do que eles defendem como sendo o primeiro sistema de BRT (Bus Rapid Transit) (fig. 2) do mundo, premiado e replicado, posteriormente, nacional e internacionalmente, como o bogotano “TransMilenio” e o paulistano “Expresso Tiradentes”, devido ao seu baixo custo, alta efetividade e rápida implementação, aspectos adequados à realidade da América Latina. Além disso, o projeto já revelava a preocupação precoce do urbanista ao incentivar o uso do transporte coletivo em detrimento do automóvel (FOLHA, 2021; POLÍTICA DO BEM, 2011; G1, 2021).



Figura 2 - BRT curitibano na década de 70

Fonte: https://bit.ly/3EjRq6E


Mais tarde, na década de 1990, o pagamento da tarifa, que antes eram realizada dentro do ônibus, passou a ser feita nas chamadas estações-tubo (fig. 3) (estruturas tubulares de diâmetros variados construídas com ferro e vidro, que ganharam o prêmio iF Design Award), o que permitiu o embarque e o desembarque por quaisquer portas, e acabou incentivando a criação do termo “metronizar” o ônibus, criado por ele próprio, (G1, 2021; GAZETA DO POVO, 2019; CIMENTO ITAMBÉ, 2014).




Figura 3 - Estação tubo

Fonte: https://bit.ly/3pIulGQ


A implantação do BRT em Curitiba não apenas revolucionou a mobilidade urbana da cidade, mas também ajudou a ordenar o seu crescimento, que, de 609.026 pessoas, de acordo com o censo de 1970, foi para uma população estimada pelo IBGE de 1.963.726 habitantes em 2021. As canaletas do sistema, localizadas nos eixos estruturais (fig. 4) de Curitiba, incentivaram o adensamento de atividades habitacionais, comerciais e de serviços, possibilitando menores deslocamentos pela malha urbana, melhorando, assim, o fluxo da cidade (IBGE; G1, 2021).




Figura 4 - As vias rodoviárias de Curitiba

Fonte: https://glo.bo/3jJsuxE


No mesmo período, Jaime Lerner, em conjunto com a equipe da prefeitura de Curitiba, ampliou as áreas verdes existentes na cidade com a inauguração de dois parques: o Barigui e o São Lourenço (fig. 5), (CULTURE, 2015; MARIANA MAGALHÃES COSTA, 2021; CURITIBA, 2012; EL PAÍS, 2018).




Figura 5 - Parque São Lourenço

Fonte: https://bit.ly/3mqIypG


Entre o seu primeiro e o seu segundo mandato, Lerner se tornou consultor da Organização das Nações Unidas (ONU) para assuntos referentes a Urbanismo, foi o primeiro presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Fundrem) e atuou como professor visitante na Universidade de Berkeley, na Califórnia.


Reconduzido mais uma vez por nomeação ao cargo de prefeito para o seu segundo mandato (1979 - 1983), Jaime Lerner, agora filiado ao PDS (partido herdeiro da ARENA, base de apoio dos militares durante a ditadura, extinta junto com o bipartidarismo pela Lei Orgânica dos Partidos Políticos, nº 6.767, de 1979), deu continuidade à sua obra iniciada desde a formulação do Plano Diretor de Curitiba no IPPUC.


Apenas em 1988, depois da redemocratização, Jaime Lerner ganharia uma eleição para o seu terceiro mandato como prefeito da capital paranaense. Importantes medidas sustentáveis foram implantadas nesse período, como os programas “Lixo que não é lixo” (de coleta seletiva) e “Câmbio Verde” (que trocava sacos de lixo por alimentos e vale-transportes), que renderam à Prefeitura de Curitiba o Prêmio Máximo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1990 (BRAZIL JOURNAL, 2021; COSTA, 2021).


No mesmo período, também criou obras como a Rua 24 Horas, o Jardim Botânico, o Museu de História Natural e a Universidade Livre do Meio Ambiente, e implantou a Ópera de Arame (projetada por Domingos Bongestabs) na cratera de uma pedreira desativada. O prédio é um exemplo do que Lerner chama de “acupuntura urbana”: intervenções pontuais realizadas em determinados locais com o objetivo de recuperar (ou apenas melhorar) aquele ambiente (POLÍTICA DO BEM, 2011; CULTURA GENIAL, s.d.; TOP VIEW, 2021).


Além de prefeito de Curitiba, ele também foi governador do Paraná de 1995 até 2002. Em 1996, foi convidado pelo então Secretário-Geral das Nações Unidas a integrar a Comissão da América-Latina e Caribe encarregada de elaborar um relatório para a II Conferência das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos. Também recebeu o prêmio René Dubois, dado a administrações públicas que desenvolveram soluções criativas ao mundo moderno sem prejudicar o meio ambiente (BRAGA, 2009).


Em 2003 Lerner foi eleito o primeiro presidente latinoamericano da União Internacional dos Arquitetos, fundou a Jaime Lerner Arquitetos Associados, além de inaugurar o Novo Museu de Arte e Arquitetura de Curitiba, conhecido como “Museu do Olho” e projetado por Oscar Niemeyer. (PLURAL, 2021).


Depois de tantos feitos para a arquitetura nacional, ele faleceu no primeiro semestre de 2021, vítima de complicações renais. Lerner figurou na segunda colocação da lista de urbanistas mais influentes do mundo (2010), da Planetizen, atrás apenas da urbanista estadunidense Jane Jacobs.


Projetos desenvolvidos por Jaime Lerner Arquitetos Associados

A Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA) é uma empresa de arquitetura e urbanismo liderada por Jaime Lerner e fundada em 2003. É constituída por oito sócios e um time de profissionais e colaboradores, que juntos dão vida a projetos multidisciplinares, estratégicos e integrados, nas escalas regionais, urbanas e arquitetônicas. A empresa tem como proposta de trabalho construir – por meio de parcerias com atores locais – ideias e soluções que possam ser detalhadas e implementadas pelos gestores das cidades.


Alguns projetos idealizados pela JLAA:

  • Reciclagem Matte Leão (Curitiba, 2003/2010)

  • Troncales (México, 2003)

  • Ações para melhorias da região central de São Caetano do Sul (São Caetano do Sul, 2005)

  • Plano de Estruturação Urbana Sorriso 2020 (Mato Grosso, 2005)

  • Plano Urbanístico Preliminar ANGLOGOLD Gleba Constelações (Nova Lima, 2005)

  • Plano Urbanístico Preliminar “Principado Ecológico de Touros” ( Touros, Rio Grande do Norte, 2006)

  • Metrô na Superfície (Rio de Janeiro, 2006)

  • Plano de Desenvolvimento Urbano para Barra da Tijuca (Rio de Janeiro, 2007)

  • Plano Preliminar de Desenvolvimento Urbano para a Cidade de Cuiabá (Cuiabá, 2007)

  • Projeto Básico de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal (Brasília, 2007)

  • Diretrizes Preliminares de Desenvolvimento Urbano para a Cidade de Durango, México (Durango, México, 2007/2008)

  • Projeto de Arquitetura da Pedreira I e Parque, Estudos da Pedreira II e Ilha São João (Volta Redonda, 2008)

  • Pátio Central de Campinas - Concepção Urbanística (Campinas, 2008)

  • Projeto Nova Luz (São Paulo, 2008)

  • Montevideo Carrasco (Montevidéu, Uruguai, 2008)

  • Parque Bossa Nova (Rio de Janeiro, 2008/2009)

  • Estudo Preliminar Eixo de Transporte Norte-Sul (Recife, 2008/2009)

  • Contribuições ao Desenvolvimento Urbano do Município de Louveira (Louveira, 2009)

  • Acupunturas Urbanas para Santiago de Los Caballeros (Santiago de Los Caballeros, República Dominicana, 2009)

  • Ações para Valorização da Área Central de Montes Claros (Minas Gerais, 2009/2010)

  • Plano Urbanístico Empreendimento Costa Esmeralda (Porto Belo, 2010)

  • Plano Urbanístico Preliminar Granja Werneck (Minas Gerais, 2010)

  • Contribuições ao Desenvolvimento Urbano do Município de Serra (Serra, Espírito Santo, 2010)

  • Desenvolvimento Urbano do Município de São João da Barra (Rio de Janeiro, 2011)

  • Projeto de Revitalização das Docklands do Cais Mauá (Porto Alegre, 2011)

  • Contribuições para o Ordenamento Urbano da Cidade de Macaé (Macaé, Rio de Janeiro, 2011)

  • Projeto “Comunidades Urbanas” (Kora, Angola, 2011/2015)

  • Plano Urbanístico “Quartier Pelotas” (Pelotas, 2012)

  • Mosqueiro (Aracaju, 2014)

  • Espaço Cousteau (Minas Gerais, 2014)

  • Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (2015)

  • Centro Novo (São Paulo, 2017)


Dentre todas essas obras desenvolvidas por Lerner e sua equipe, vamos analisar de maneira mais profunda os seguintes projetos:


Orla de Guaíba (Porto Alegre)


A partir da fundação da JLAA, o arquiteto Jaime Lerner e seu conjunto de arquitetos associados desenvolveu o projeto do Plano Conceitual do Parque Urbano da Orla do Guaíba (figs. 6, 7 e 8). Esse projeto, coordenado e acompanhado por Fernanda Canali, que teve início em 2012 e previa etapas de implantação que vem sendo realizadas até hoje, foi uma intervenção de 56,7ha ao longo de 1,5km da margem do Lago Guaíba em Porto Alegre.




Figura 6 - Orla de Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3yUKDz1




Figura 7 - Orla de Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3yTDgYC



Embora essa área já existisse há anos na cidade como sistema de controle de cheias, por meio de um dique que evitava enchentes, a necessidade da concretização desse projeto surgiu a partir de problemas de segurança, abandono e degradação. Tudo isso acarretou então no desenvolvimento de um processo de regeneração urbana e ambiental da região com a valorização de seu entorno, a conectividade da área com a malha urbana de deslocamento e a integração com elementos construídos e naturais que consequentemente gerou efeitos sociais, econômicos e ambientais sistêmicos na cidade.




Figura 8 - Orla de Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3Fr3unA


Toda essa obra foi desenvolvida com materiais como concreto, vidro, madeira e aço em seus acabamentos naturais que retratam uma plasticidade em referência ao movimento da água (fig. 9), tanto nas calçadas como nas arquibancadas, presentes ali para a admiração da paisagem. Embora a escolha de seus materiais tenha sido muito importante, a luz foi um elemento essencial tanto durante o dia, com os reflexos do lago, quanto à noite, com as luzes instaladas no calçadão, criando um “céu estrelado abaixo dos pés” (fig. 10), como é colocado no site do próprio arquiteto.


Figura 9 - Orla de Guaíba e seu design representando o movimento da água

Fonte: https://bit.ly/3EoJcty




Figura 10 - “Céu estrelado abaixo dos pés”

Fonte: https://bit.ly/3mpEKEL


Além de toda a preocupação com o espaço construído, ainda houve uma valorização da vegetação nativa com a sua reintrodução ao local ou a sua preservação mesmo após a concretização do projeto, que ainda implementou um restaurante sobre as águas (fig. 11) e passarelas localizadas acima do lago (fig. 12).



Figura 11 - Restaurante localizado na Orla de Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3yT9LpK




Figura 12 - Passarelas sob o lago Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3ejRVCR



Assim, esse projeto, um dos mais reconhecidos da carreira do arquiteto, não foi apenas um marco arquitetônico, mas também abriu espaço para a realização de diversas formas de expressão cultural e artísticas, aumentando o senso de pertencimento da população e demonstrando o cuidado da cidade por seu patrimônio e seus habitantes (fig. 13).




Figura 13 - Orla de Guaíba

Fonte: https://bit.ly/3yXjwDl


Plano Urbanístico Preliminar para Ocupação Habitacional (Joinville)


Outro projeto de Lerner a ser destacado é o Plano Urbanístico Preliminar para Ocupação Habitacional (fig. 14).




Figura 14 - Plano Urbanístico Preliminar para Ocupação Habitacional

Fonte: https://bit.ly/3mtlmqE


Este foi idealizado pelo arquiteto e seu escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA) em 2004, ainda não implantado.


O projeto é um planejamento urbano em uma área de expansão em Joinville, Brasil, com área de 26 milhões de m2 e potencial de comportar 50 mil habitantes.


O terreno é localizado nas margens da baía da Babitonga, situada na foz do rio Palmital. A arquitetura foi pensada de forma a agregar o plano urbano ao cenário natural ali existente. Foi respeitado, em todo o conjunto, o distanciamento da margem, além da preservação da área verde no entorno das fontes d’água existentes, formando um círculo central no projeto. Tal preservação, serve tanto para as importâncias da mata ciliar, que contribuem com a qualidade e quantidade da água, retêm sedimentos e evitam a poluição das águas, quanto para a manutenção do conforto térmico da futura construção.


O volume construtivo da edificação é organizado em raios concêntricos ao círculo central de preservação do projeto (fig. 15). Os quarteirões, desta forma, em formato de meia lua, proporcionam, também, um espaço integrado.




Figura 15 - Plano Urbanístico Preliminar para Ocupação Habitacional, Joinville

Fonte: https://bit.ly/3EiWbNr


Outros prêmios e participações

  • Proferiu cursos e seminários em diversas instituições de ensino, como a de Cincinnati e Berkeley (EUA) e Osaka (Japão);

  • Participou de reuniões na Academia de Ciências de Nova Iorque (sobre megacidades e tecnologias inovadoras), na Smithsonian Institucional, no Conselho Nacional de Tecnologia dos Estados Unidos (sobre novos rumos em tecnologia e infraestrutura);

  • Foi membro da Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política Urbana, do Banco Nacional de Habitação (BNH), do Real Instituto dos Arquitetos do Canadá e do Instituto Americano de Arquitetos.

  • Recebeu o Colar de Ouro do Instituto dos Arquitetos do Brasil e a medalha da Fundação Thomas Jefferson de Arquitetura e os prêmios “UN-Habitat Scroll of Honor”, “Tree of Learning”, “Prince Claus”, “Pioneer 2001”, “The 2001 World Technology Award for Transportation”, “The Sir Robert Mathew Prize for the Improvement of Quality of Human Settlements”, “2004 Volvo Environment Prize” e o título de doutor honoris causa da Universidade Técnica da Nova Escócia

 
 
 

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