
história do escritório
O Brasil Arquitetura é uma associação de arquitetos criada em 1978 por Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, que tem como função realizar projetos de arquitetura, urbanismo, desenho industrial e restauro para diferentes setores de atividades, como residências, comércios, indústrias e edifícios de lazer e de uso público. Uma das principais influências desse escritório é a arquiteta Lina Bo Bardi, com quem Ferraz trabalhou diretamente. A colaboração com Lina, especialmente no projeto do Sesc Pompeia em São Paulo, proporcionou uma compreensão aprofundada da relação entre arquitetura, cultura e sociedade, elementos que permeiam os projetos do escritório. Sua produção incorpora características do brutalismo, como o uso de concreto aparente, grandes vãos e uma estética marcada pela funcionalidade e honestidade dos materiais. Ao mesmo tempo, dialoga com o movimento contemporâneo, que considera o entorno e o contexto onde as construções estão inseridas, explorando soluções inovadoras, combinando técnicas tradicionais e modernas. Essas influências estão presentes em projetos como o Museu do Pão Moinho Colognese e o Cais do Sertão, onde a materialidade e a estrutura são protagonistas na definição do espaço.
Como eles mesmos definem: “procuramos criar uma arquitetura que esteja conectada tanto às tradições quanto à modernidade” e “buscamos uma arquitetura atenta às raízes e antenas”. Consequentemente, sua trajetória foi marcada por diversos prêmios no Brasil e no exterior por seus projetos, dentre os quais se destacam: o Bairro Amarelo, em Berlim, Alemanha; o Museu Rodin Bahia, em Salvador, Bahia; o Museu do Pão, em Ilópolis, RS; a Villa Isabella, na Finlândia; e a Praça das Artes, em São Paulo.


sócios

Marcelo Ferraz é um dos arquitetos brasileiros fundadores do Brasil Arquitetura e da Marcenaria Baraúna, formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP) em 1978. Através do seu escritório e de outras contribuições conseguiu se destacar dentro do campo de preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro.
Entre 1977 e 1992, Ferraz se juntou à arquiteta Lina Bo Bardi, autora do MASP e uma referência internacional em torno de debates relacionados a valorização cultural, trabalhando diretamente em diferentes obras com a arquiteta, como o Sesc Pompéia (São Paulo - SP). Outrossim, Ferraz lecionou na Washington University in Saint Louis, USA, em 2006. É um ativo escritor, publicando os livros Arquitetura Rural na Serra da Mantiqueira (1992), Lina Bo Bardi (1993) e Arquitetura Conversável (2011). Ademais, foi gestor cultural como diretor do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi de 1992 a 2001 e o Programa Monumenta – Ministério da Cultura, entre 2003 e 2004.

Francisco Fanucci, arquiteto urbanista formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP) em 1977, fundou ao lado de Marcelo Ferraz o escritório Brasil Arquitetura. Fanucci teve sua carreira influenciada por arquitetos modernistas, como Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas. Ademais, o arquiteto ficou conhecido pela preservação do património cultural, unindo a tecnologia e tradição em seus projetos, isto é, criando soluções que respeitam a história e identidade dos locais.
O arquiteto prioriza a sustentabilidade em seus projetos, visando frequentemente utilizar madeira, pedra, concreto aparente e tijolos maciços, podendo esses serem reaproveitados do espaço ao redor do projeto. Sendo assim, seus trabalhos integram elementos regionais, tanto físicos quanto simbólicos dos locais de implantação das construções.

Cícero Ferraz Cruz é um arquiteto e urbanista brasileiro, formado pela FAU-USP em 1999, cuja carreira destaca-se por seu trabalho em arquitetura e intervenções que vão desde o âmbito residencial, até grandes projetos urbanos. Atua dentro dos projetos do escritório Brasil Arquitetura desde 1999. Ademais, foi também sócio colaborador do escritório Chão Arquitetos e é autor do livro ‘Fazendas do Sul de Minas Gerais’.
A sua abordagem é muitas vezes caracterizada por uma visão crítica sobre o urbanismo no geral. Cícero defende a importância de respeitar as necessidades das comunidades locais a fim de melhorar a convivência urbana. Seus projetos são amplamente reconhecidos pela capacidade de integrar áreas públicas e privadas, com um foco na criação de ambientes urbanos mais acolhedores e acessíveis. O arquiteto também se destaca pelo uso de materiais e técnicas que dialogam diretamente com o contexto local, sempre buscando soluções que considerem as condições climáticas e geográficas específicas de cada região onde o projeto é realizado.
Além disso, seus trabalhos são de antemão localistas, isto é, caracterizados pela identidade cultural com a qual trabalha. Esse procedimento é realizado de uma forma com a qual transforma os espaços urbanos no objetivo de pacificar a convivência local e garantir o bem-estar social na região. Ele valoriza cada vez mais o histórico-cultural sem nunca perder a modernidade e inovação em cada empreendimento que assina.
acervo de projetos
O escritório Brasil Arquitetura desenvolveu projetos em diversas áreas, abrangendo diferentes escalas e usos. Suas principais obras podem ser organizadas em três categorias: Museus, focados na preservação e valorização cultural; Comerciais e Residenciais, que atendem a diferentes contextos urbanos e funcionais; e Projetos Premiados, reconhecidos por sua relevância arquitetônica.
Museus
Museu Rodin Bahia (2002) – Salvador, BA
Museu de Igatu (2008) – Andaraí, BA
Museu do Trabalho e do Trabalhador (2010) – São Bernardo do Campo, SP
Museu do Pampa (2009) – Jaguarão, RS
Museu da Democracia (2012) – São Paulo, SP
Museu das Missões (2014) – São Miguel das Missões, RS
Museu do Tijolo (2015) – Arvorezinha, RS
Comerciais e Residenciais
Convento Santo Antônio do Paraguaçu (2024) – Cachoeira, BA
Casa da Lapa (2009) – São Paulo, SP
Sesc Registro (2018) – Registro, SP
Casa Monte Mor (2018) – Monte Mor, SP
Casa Gregório Paes de Almeida (2019) – São Paulo, SP
Casa Maringá (2021) – Maringá, PR
Pavilhão Girassol (2004) – São Paulo, SP
Projetos Premiados
Praça das Artes (2006) – São Paulo, SP
Comitê Olímpico Internacional (2013) – Lausanne, Suíça
Casa Dom Viçoso (2010) – Dom Viçoso, MG
Teatro do Engenho Central (2009) – Piracicaba, SP
Conjunto KKKK (1996) – Registro, SP
Teatro Polytheama (1995) – Jundiaí, SP
cais do sertão

Ficha técnica:
Projeto: Cais do Sertão Luiz Gonzaga
Localidade: Recife, PE
Ano: 2009
Área: 8.500m²
O Cais do Sertão, localizado no Recife, é um espaço cultural que homenageia o sertão nordestino e sua rica história. O projeto, assinado pelo escritório Brasil Arquitetura, teve sua idealização iniciada em 2009 e sua primeira etapa inaugurada em 2014, no contexto da revitalização da região portuária da cidade. A segunda fase, concluída em 2018, ampliou as funcionalidades do complexo. A proposta do museu busca estabelecer um elo entre a cultura sertaneja e a paisagem litorânea do Recife, transformando a área do antigo porto em um espaço de memória, convivência e aprendizado.
A região escolhida para o projeto tem grande relevância histórica. O Porto do Recife, um dos mais antigos do Brasil, já era um ponto estratégico para a economia local desde antes do século XVI. Por séculos, foi fundamental para a circulação de mercadorias e pessoas entre o litoral e o sertão, funcionando como conexão essencial para o desenvolvimento da região. O Cais do Sertão resgata essa ligação e propõe um diálogo entre esses dois mundos, trazendo para a orla elementos que remetem ao universo sertanejo. Além de valorizar a cultura nordestina, o museu requalifica a área portuária, tornando-se um novo polo cultural e turístico da cidade.

Inspirado na trajetória de Luiz Gonzaga, o museu apresenta uma arquitetura de forte caráter brutalista. O amplo vão livre de aproximadamente 65 metros, a textura crua do concreto tingido em ocre e as formas robustas conferem imponência ao edifício, ao mesmo tempo em que evocam a paisagem árida do sertão. O uso de materiais expostos, como concreto, aço e madeira, reforça a conexão com a estética nordestina. Elementos tradicionais da arquitetura regional, como os cobogós e grandes aberturas, garantem ventilação e iluminação naturais, promovendo conforto térmico e eficiência energética.

O projeto se estrutura em duas partes principais. A primeira corresponde à reforma do antigo galpão portuário, que abriga as exposições fixas sobre Luiz Gonzaga e a cultura sertaneja. A segunda é o novo edifício, inaugurado em 2018, que amplia o complexo com um auditório de trezentos lugares, salas para exposições temporárias, áreas para cursos, biblioteca e reserva técnica. No terraço, um restaurante sertanejo oferece uma vista panorâmica do Recife Antigo e do mar, criando um ambiente de contemplação e conexão com a cidade.


A planta do Cais do Sertão foi concebida para favorecer a integração entre os espaços internos e externos. O fluxo de pedestres é intuitivo, permitindo uma experiência fluida ao longo do museu. As exposições e áreas interativas estão distribuídas de forma setorizada, organizando a circulação de maneira clara. A escolha por amplas superfícies envidraçadas reforça a relação do edifício com o entorno, trazendo a paisagem urbana e marítima para dentro do espaço.

Outro aspecto fundamental do projeto é o uso estratégico da ventilação e iluminação naturais. Os cobogós aplicados nas laterais do edifício permitem a circulação do ar, reduzindo a necessidade de climatização artificial. Além disso, as grandes aberturas proporcionam uma entrada abundante de luz natural, diminuindo o consumo energético e realçando a textura dos materiais empregados. O uso do concreto, madeira e elementos vazados cria um ambiente que dialoga com a rusticidade do sertão e a modernidade da arquitetura contemporânea.




Museu do pão

Ficha técnica:
Projeto: Museu do Pão Moinho Colognese
Localidade: Ilópolis, RS
Ano: 2005
Área: 530m²
O Museu do Pão de Ilópolis é um lugar bem único, que foi criado para contar a história do pão e da imigração italiana na região. Foi inaugurado em 2005, e fica em Ilópolis, uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. O museu passou por um projeto de revitalização e ampliação em 2008, que ficou a cargo da Brasil Arquitetura, um movimento importante para deixar a instituição ainda mais relevante para cidade e região.
Ilópolis, como muitas cidades da Serra Gaúcha, tem uma forte ligação com os imigrantes italianos que chegaram no final do século XIX, mas o lugar também tem outras histórias, como a do Moinho Colognese, que é um verdadeiro símbolo da cidade. A região é rica em recursos naturais, especialmente madeira de araucária, o que foi fundamental para o desenvolvimento dos imigrantes na região.

Os moinhos, ao longo do tempo, não foram apenas ferramentas de produção, mas também marcaram território e ajudaram a fixar comunidades inteiras. Eles eram essenciais para a produção de trigo e farinha, que alimentavam muitas famílias. O Moinho Colognese foi erguido na década de 1930 e, nos anos 50, foi comprado pelos irmãos Colognese. A partir daí, com o crescimento da indústria e da agricultura, muitos moinhos foram abandonados ou até demolidos.

Em 2003, foi criada a Associação dos Amigos dos Moinhos do Vale do Taquari (AAMoinhos), que, com a ajuda de recursos da Lei de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul, comprou o imóvel e criou o Caminho dos Moinhos, uma rota turístico-cultural para preservar a memória desses espaços. O projeto de restauração do moinho foi desenvolvido por pelo escritório, e em 2006 começaram as obras pro Museu do Pão e pra Escola de Panificação. O projeto foi concluído em 2007, e em 2008, o Complexo Arquitetônico Museu do Pão foi finalmente inaugurado.
O novo espaço mistura a arquitetura contemporânea com elementos históricos. A ideia era criar uma harmonia entre o moderno e o antigo. Dois novos blocos de concreto e vidro respectivamente contrastam com o moinho de madeira. A arquitetura também remete à estética brutalista, com o uso de materiais como concreto e madeira de araucária, que é a principal matéria-prima da região.
Essa determinada escolha não somente traz à tona o legado brutalista que o escritório carrega diante da influência de Lina Bo Bardi, mas também denota o uso de materiais de construção robustos no objetivo de trazer o destaque à madeira de araucária. As formas das superfícies de concreto foram minuciosamente escolhidas de forma a apresentarem uma textura de madeira no concreto exposto semelhante à textura da madeira de araucária.

Dentro, o projeto é bem pensado para criar uma conexão entre os espaços. O Museu do Pão fica ao lado do moinho, com muitas superfícies de vidro que deixam a vista bem clara do que está exposto ali. Já a Escola de Panificação fica mais ao fundo, com um espaço mais reservado e aconchegante, quase como as casas italianas tradicionais e seus ambientes domésticos, em que a cozinha fica nos fundos.


A circulação externa, feita de madeira, conecta os novos blocos de concreto e vidro, criando uma sensação de unidade e harmonia, além de reforçar essa ideia de diálogo entre a modernidade e as tradições locais.

A história do Museu do Pão e do Moinho Colognese reflete não só a memória da cidade, mas também a força das tradições da região, que ainda são vivas e são preservadas com carinho por projetos como esse.
Autores
CECILIA AREAS MUNHOZ
FABIANA AGUIAR LOPES
GUSTAVO ROCHA FERREIRA PINTO
PEDRO MEDEIROS DUARTE DA SILVA
referências
ALGOMAIS. 8 fotos do Porto do Recife antigamente. Algomais, [s.d.]. Disponível em: https://algomais.com/8-fotos-do-porto-do-recife-antigamente/. Acesso em: 17 dez. 2024.
ARCHDAILY. Marcelo Ferraz. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/tag/marcelo-ferraz. Acesso em: 17 dez. 2024.
ARCHDAILY. Cícero Ferraz Cruz. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/office/cicero-ferraz-cruz. Acesso em: 17 dez. 2024.
BRASIL ARQUITETURA. Sobre o escritório. Disponível em: https://brasilarquitetura.com/sobre-o-escritorio. Acesso em: 17 dez. 2024.
ESCAVADOR. Cícero Ferraz Cruz. Disponível em: https://www.escavador.com/sobre/3315925/cicero-ferraz-cruz. Acesso em: 17 dez. 2024.
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